Por amor ao debate: é possível mesmo uma escola sem partido?
Estou no 1º ano do curso de
teologia aqui da minha cidade. É um curso que sempre me despertou bastante
curiosidade aliada a imensidão de questionamentos que, por ventura, ninguém
conseguia sanar. A Igreja Católica é a mantenedora e idealizadora do curso e são
os padres das comunidades que ministram as matérias.
Pois bem. Essa semana
tivemos uma aula de Introdução à Bíblia com um padre substituto - por hábito
não chamamos os padres de professores - e não conhecíamos sua metodologia para
abordar a matéria levando em conta que o padre anterior era bastante
catedrático e querido pela turma.
Eis que em um determinado
momento, dentro do contexto, o Padre emitiu uma opinião sobre a Renovação
Carismática e a teologia da libertação. Deixou claro seu posicionamento contrário
e foi bastante crítico nas suas ponderações a tal ponto de um aluno questionar
se não era verdade que o Papa Francisco reconhecia essas vertentes. Prontamente
respondeu: "Não há qualquer documento da igreja que fale sobre isso".
Silêncio na sala.
Cheguei em casa e o grupo do whatsApp da turma
começou a pipocar em indagação ao posicionamento do Padre. Embora não tenha
havido discussão em sala, ficou claro que muitos se incomodaram. Eu também
fiquei - confesso - mas quando me dei conta já havia pesquisado, buscado
referências e estava imersa no assunto lendo diversos textos de diferentes
linhas ideológicas.
Foi neste momento que parei e me perguntei: Será
que é possível mesmo uma escola sem partido?
Eu que já acho essa ideia
um tanto estapafúrdia me peguei nessa situação até então inusitada. Se dentro
da Igreja Católica há diferentes correntes e os padres – que são formadores de
opiniões, por óbvio – emitem seus posicionamentos na comunidade sem receio, há
como ser diferente com os professores no ensino tradicional? Não estaríamos
minando a liberdade de expressão do individuo? Ademais, será que cabe em sala
de aula, com seres pensantes, qualquer forma de doutrinação? Parece-me
improvável.
Tomei como lição que
divergências ideológicas são deveras importantes na vida acadêmica do ser
humano, inclusive as religiosas. Apesar das minhas convicções, não medi
esforços para buscar conhecer sobre aquilo que era estranho pra mim e me faz
mais consciente que pensamentos diferentes nos direcionam a enfrentar o desconhecido.
E conhecer é evoluir. Sem isso, tudo se resume a alienação.
.
.
.
Esse texto foi escrito em 03/04/2019 e publicado originariamente no Linkedin.
Comentários
Postar um comentário