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ÉRAMOS DOIS

Sentamos à mesa. Ele e eu. Eu tinha feito uma canja porque ele andava com uma tosse seca que não curava. - Tem um poema de um escritor português que fala sobre quando todos sentavam a mesa e depois quando todos vão embora. - Hm, Sei. - Eu o vi em Curitiba, ele até autografou o livro pra mim. Quer que eu te leia o poema? - Outro dia você lê. Ficamos ali em silêncio. Eu bebia uma cerveja, ele um copo água. Entre uma tosse e outra, eu falei: - Você foi ao médico? Quer que eu te leve para ver essa tosse amanha? - Fui hoje. Até tomei injeção. Logo eu melhoro. - Tem que cuidar hein. Tá com uma tosse muito feia. Eu ouço sua tosse de longe. Enquanto ele raspava o prato, soltou: - Eu sinto falta da sua mãe. Minha cara não disfarçou o susto que levei. Nunca tínhamos falado sobre isso, muito menos assim, na mesa do jantar. Minha mãe tinha morrido há quase sete anos de uma doença rápida que nos deu uma rasteira gigantesca. Falar sobre ela ou sobre a morte dela nunca foi tabu pra mim porque vivi a

Ritual

Sinto cheiro de chuva mas lá fora não cai gota alguma  Me bate vontade de dizer o que não foi dito, e deixo agora, por escrito  Tenho lembranças de dias incríveis A alma plácida, branda, feito as primeiras horas da manhã Torci para que o som das nossas vozes fossem uníssonas mas o abrupto tempo da vida barrou, faz parte, ninguém errou Eu vejo a lindeza que fomos, mesmo sem despedidas Não foi preciso A vida sabe o que faz da gente Um dia descobrimos, de repente.