Desencontros
Tínhamos marcado de nos encontrar no final de semana. Conseguimos
conciliar as agendas e compramos ingressos para o mesmo festival. Seria nosso
primeiro encontro, depois do “match” e das conversas onlines, esse parecia ser
o momento perfeito. Já tínhamos feito outras tentativas mas todas frustradas,
e eu convicta, pensava: uma hora vai dar certo. A conexão que tínhamos me
assustava e por algumas vezes eu hesitei em me aproximar. Inclusive falávamos
dessa nossa incapacidade de nos relacionar, dos medos de não corresponder as expectativas, tínhamos de fato muito em comum. Era alguém que eu gostaria de conhecer e eu achava que estava
pronta.
Logo que cheguei ao show fiquei atenta e confesso que a cerveja me
encorajava. Entre uma banda e outra, as pessoas circulavam e eu continuava a busca. Não insistimos em marcar um lugar para nos vermos, afinal, mesmo no
meio da multidão, fatalmente nos veríamos nos shows das nossas bandas preferidas. De alguma forma, queria muito
que isso se desse naturalmente, sem pressão.
De repente, coração palpitante. Vejo alguém muito
parecido passar. Parecia ser. Tive vergonha. Achava que não era a hora ainda da aproximação. A chance da gente se encontrar por aí vai ser maior agora, eu pensei. Curtia o show com meus amigos, contente até com a azaração entre uma cerveja e outra, enquanto a chuva prevista, por vontade divina, não caia.
Anoitecia, os shows terminavam e nenhum resquício deste encontro. Nenhuma mensagem no whatsapp, nenhum sinal de que iria acontecer. A ansiedade bateu. Passei a circular entre as pessoas, olhos vorazes. A chuva então caiu. O último show estava por fim. No palco, Flora entoava suas últimas rimas: "Meu amor, se eu te perder é para te encontrar".
Anoitecia, os shows terminavam e nenhum resquício deste encontro. Nenhuma mensagem no whatsapp, nenhum sinal de que iria acontecer. A ansiedade bateu. Passei a circular entre as pessoas, olhos vorazes. A chuva então caiu. O último show estava por fim. No palco, Flora entoava suas últimas rimas: "Meu amor, se eu te perder é para te encontrar".
Pernas já exaustas, era hora de ir pra casa. Estava feliz por ter conseguido reunir meus amigos e ter visto todos os shows que eu queria mas o sentimento de frustração me acometeu e eu repensei várias vezes como tudo poderia ter sido diferente. Seria perfeito se o medo que paralisa o corpo quando lidamos com
julgamentos e rejeições se ausentasse por algumas frações de segundos. E se aquele romance virtual não for verdade? E se
aquela sintonia fina não for real? E se nossos olhos se perderem? E se...
Fuçei seus
stories no Instagram e trocamos palavras. “Vc fugiu de mim?”. “Não, eu também te procurei”. Era
eu que fugia de mim quando, no fundo, não queria que o encanto se quebrasse. Era a coragem que fugia de mim quando fingia te procurar. Afinal,
os romances virtuais parecem tão mais legais. A verdade é que, contrariando o
ditado, quando não estamos dispostos, o que for pra ser, será. Era hora de fechar a noite e virar a página.
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